Raí: “Estou triste e assustado com a vitória de um candidato com valores repugnantes”
“Na última semana eu só pensei em política, valores, o futuro, os meus ideais… Eu fui votar com convicção escolhendo a opção que eu mais me identifico. Eu fiquei preocupado, mas tinha um pouco de esperança dentro de mim. Depois dos resultados eu fiquei triste e até mesmo assustado quando vi as reações das pessoas celebrando a vitória do candidato que já mostrou vários absurdos e valores repugnantes”, disse Raí ao jornal francês L’Équipe em (31/10).
Um dos ex-jogadores mais engajados na política e com trabalho social de relevância, Raí é irmão de Sócrates, jogador e ativista político nos anos de 1980 quando o Brasil vivia a Ditadura Militar. Sócrates, morto em 2011, é um dos fundadores da “Democracia Corinthiana”, um grupo de resistência no futebol na época da ditadura.Na entrevista, Raí, que tem cidadania francesa desde a época de jogador do PSG nos anos de 1990, disse que optou por permanecer no Brasil quando encerrou a carreira para “ajudar a construir um país melhor”.
E deu sua opinião ao L’Équipe a respeito das 60 milhões de pessoas que votaram em Bolsonaro. “Há também pessoas de boa fé que acreditam nas posições conservadoras defendidas pelas igrejas evangélicas. Há milhões e milhões de brasileiros que se sentiram traídos. Essa sensação provocou um terrível desejo de mudança, às vezes motivado pelo ódio. Muitas vezes perturbando os valores essenciais da democracia e os nobres valores do ser humano.
Eu não tenho dúvida que muitos brasileiros não acreditam que seu novo presidente colocará em prática as terríveis e inaceitáveis preconceitos que ele falou em público”. Durante processo eleitoral na semana passada, Raí afirmou ao jornal francês que tentou reverter alguns votos de Bolsonaro para Fernando Haddad. “Quando eu sentia uma abertura, eu tentava convencer as pessoas. Eu acho que mudei alguns votos, mas não tanto quanto o que eu queria. A grande maioria dos partidos de esquerda não apoiou Fernando Haddad. Mas como convencer os eleitores se até o PT não conseguiu convencer seus aliados? Assim, fica ainda mais difícil”.
O ex-jogador e hoje diretor de futebol do São Paulo afirmou também que a eleição de Bolsonaro será um “grande teste para nossa democracia”. “A revolução passa frequentemente pela resistência. Vocês, nós, os franceses, conhecemos bem isso. A onda Bolsonaro é o resultado de uma onda mundial em direção à extrema direita”, disse. Para Raí, a eleição de Bolsonaro foi, mais do que uma vitória da direita, uma “derrota da esquerda”. “Talvez nós devamos reinventar uma nova revolução humanista, sem perder a essência de sua ideologia.
Precisamos procurar um novo modelo de esquerda que seja eficaz e que nos represente. Precisamos também de novos líderes”. Para Raí, o futebol é “um reflexo da sociedade. Em especial, de seu lado conservador e desconfiado. Nenhum jogador brasileiro se posicionou contra Bolsonaro por causa de uma falta de cultura, de cultura política também”.
Por que não há jogadores que se posicionam contra Bolsonaro?, pergunta L’Équipe. “Eles não se exprimem não por ceticismo, mas porque eles têm medo da agressividade do público e porque eles se sentem em minoria no meio do futebol”, disse Raí. E, por fim, questionado sobre como seu irmão Sócrates teria reagido à onda de extrema direita, Raí disse que “com força e vigor”. “Ele foi e sempre será um mito, uma inspiração para a democracia e a liberdade”.
Chuteira FC
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